From spirituality to spiritual care through religion and religiosity: Concepts and challenges for nurses and health professionals

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Diferentes autores [1-2] consideram que a espiritualidade se caracteriza por ser uma dimensão intrínseca à natureza humana, quer seja vinculada ou não a uma religião ou religiosidade. No entanto, deve-se reconhecer que desde tempos imemoriais, a religião e a religiosidade são registradas como uma construção humana importante, matriz de proposições legislativas, instância de proteção social e fonte de sentido diante dos absurdos, como o adoecimento e a morte [3].

Há um consenso entre os principais autores que estudam a temática [4-5] de que religião, religiosidade e espiritualidade não se apresentam como sinônimos. Outros autores [2] consideram que religião possui relação com identidade social e está vinculada a um corpo doutrinário, enquanto a religiosidade é uma experiência de cunho coletivo, compartilhado ou praticado. A espiritualidade, por sua vez, está relacionada a buscas e práticas subjetivas, mais individuais e não necessariamente institucionais.

A religiosidade pode ser compreendida, ainda, como a adesão a uma determinada religião, o que inclui crenças e práticas específicas, e a espiritualidade a relação entre uma pessoa e o ser ou força superiores [6]. Nesta esteira, a espiritualidade se apresenta como mais ampla que a religiosidade e é, simultaneamente, expressa pela religião, apresentando uma ressignificação da vida capaz de enfrentamento de questões como culpa, raiva e ansiedade, demonstrando interesse por si mesmo e pelos demais.

Alguns autores [7] apresentam a mesma proposição ao considerar que a religiosidade se relaciona aos dogmas, cultos e doutrinas, enquanto a espiritualidade a aspectos da vida humana que dizem respeito a experiências que extrapolam os fenômenos sensoriais. Reforçam a presença do significado e do propósito no contexto da espiritualidade e à capacidade que esta oferece de adaptação, de reorganização e de construir propósitos mais elevados para a vida cotidiana.

Aprofundando especificamente a espiritualidade, pode-se apontar que ela apresenta um sentido e um significado para a vida, na maioria das vezes com tendência a um caráter transcendente [8], enquanto a religião se caracteriza por ser um sistema cultural de crenças e rituais que estão na base da construção de um senso de significado comum e partilhado acerca da realidade, considerada como sagrada e sobrenatural [9]. Destaca-se, ainda, que a religião se caracteriza como um importante processo de decodificação da experiência de Deus relacionando-se, portanto, às dimensões da religiosidade e da espiritualidade [8].

Ainda no que tange à espiritualidade, podem ser destacadas, em um primeiro momento, quatro definições importantes, a de qualidade de vida [9], a de saber único de cada indivíduo [10], a de processo experiencial [11] e a de busca de sentido e relação com o sagrado [12]. Esta busca se refere à construção de sentido para o viver e morrer e se desdobra em atitudes e sentimentos como compaixão, solidariedade e amor [13].

Com relação ao cuidado espiritual, destaca-se a sua organização em sete grandes dimensões, quais sejam, (1) o respeito pelo paciente, (2) o alívio do sofrimento, (3) a qualidade de vida, (4) o cuidado humanizado englobando empatia, escuta e carinho, (5) o espaço de construção de sentido, (6) a maximização das potencialidades do paciente e (7) como presença do profissional. O cuidado espiritual pode ser organizado ao redor do respeito aos pacientes, desdobrando-se em interações interpessoais favoráveis com a possibilidade de partilha de rituais e a potencialização da força de ambos os atores sociais envolvidos no cuidar [13].

Pode ser considerado também como um modo de alívio de sofrimento quando engloba ações que tocam a dimensão religiosa, incluindo a solicitação de entrada de capelães e sacerdotes no processo ou a adoção de práticas específicas, como a oração [13]. Neste sentido, os profissionais passam a ser veículos deste alívio e as suas ações consubstanciam uma totalidade de sentido para o paciente que não existia antes.

O cuidado espiritual pode ser visto como uma forma de enfrentamento do processo de doença e de morte associada à maior qualidade de vida em decorrência do estímulo à esperança, do fomento às conexões espirituais pessoais ou da inclusão de tecnologias específicas, como a música e a arte [14]. Elas apontam, ainda, a aproximação dos pacientes com a ideia de transcendente como uma dimensão importante no alcance da própria qualidade de vida.

Com relação ao cuidado espiritual caracterizado como humanizado, destacam-se a sua estruturação nos seguintes itens: relação empática, escuta ativa e apoio à pessoa cuidada. Um estudo [2] desenvolvido com acadêmicos de enfermagem aponta a relação entre a espiritualidade e a assistência de enfermagem, demonstrando a importância da relação empática na construção desta assistência e, consequentemente, no próprio cuidado espiritual.

No contexto do cuidado paliativo, o cuidado espiritual possui dois esteios principais, quais sejam, o trabalho interdisciplinar e as práticas humanizadas, sendo estas descritas como escuta e relação empática [13]. Por sua vez, a escuta terapêutica é um dos principais métodos do cuidado espiritual, mas nem sempre percebido como tal pelos profissionais de saúde [10], ao passo que também se considera a necessidade de estabelecimento de uma rede de suporte para o cuidado em que a espiritualidade possa ser contemplada através da presença da sensibilidade, da solidariedade, da empatia e da cooperação [15].

O cuidado espiritual promove o estímulo às potencialidades das pessoas, o que implica na valorização das suas capacidades, na abordagem de suas esperanças e no desenvolvimento da paz interior, como bases para um enfrentamento saudável das diferentes situações da vida, em especial a doença e a morte [12]. Diferentes autores [7,11] abordam a presença significativa do enfermeiro como um elemento importante do cuidado espiritual, o que também pode ser apontado com relação ao cuidado de enfermagem de um modo geral.

A presença do profissional significa uma atenção às necessidades espirituais e gera uma relação de confiança, em especial nas situações de fim de vida [7]. A presença do enfermeiro se apresenta como um aspecto importante na provisão do cuidado espiritual, notadamente porque esta presença requer duas habilidades, a de saber ouvir e a de respeito às crenças e valores dos pacientes. Apesar do destaque dado à figura do enfermeiro, estimula-se que o cuidado espiritual possa e deva ser realizado por todos os profissionais da saúde como uma abordagem holística, culturalmente pertinente e eticamente orientada, possibilitando a construção de sentido diante dos absurdos da existência e maior qualidade de vida no enfrentamento do processo saúde-doença.

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Author Biography

Antonio Marcos Tosoli Gomes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Enfermeiro. Doutor em Enfermagem pela Escola Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor Titular do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisador do CNPq Nível 1D e Procientista UERJ/FAPERJ.

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Published

2021-05-25

How to Cite

Gomes, A. M. T. (2021). From spirituality to spiritual care through religion and religiosity: Concepts and challenges for nurses and health professionals. Journal of Multiprofessional Health Research, 2(2), e02.98-e02.101. Retrieved from https://journalmhr.com/index.php/jmhr/article/view/31

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Editorial

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